
Pequenino e indefeso no útero de sua mãe vive seus primeiros dias de vida
num ambiente de paz e tranqüilidade necessário ao crescimento do feto,
embora esteja iniciando o processo de formação do corpo, o mesmo traz
características próprias da vida humana como capacidade sensitiva à dor,
ao medo e apego à vida. Mas este ambiente de paz é cessado pelos ferros
mortíferos que avançam útero adentro procurando romper a bolsa
amniótica. Se esta criancinha que se forma no útero de sua mãe estiver
com 12 semanas de vida, seus pequenos movimentos serão suficiente para
levar a boca seu pequenino polegar. Alheio ao momento hediondo que se
aproxima, quando os ferros abortivos o procura para assassiná-lo, seu
corpo ainda em formação pressente a morte e num esforço incomum de
sobrevivência muda de lugar em ritmo desesperador num último intento
de escapar até a arma letal perfurar a bolsa e deixá-los frente a frente,
assassino e feto. Este é o momento pior para a criancinha, ele, acuado,
encolhido, se espreme nas paredes uterinas esperando tão somente o
momento final. E quando os ferros lhe tocam, sua boca abre num grito
silencioso de socorro. Morto, seu corpo é mutilado, destroçado e
succionado pelo tubo de aspiração. No entanto sua cabecinha não passa
e esta é triturada e retirada pedaço por pedaço do que foi um ser humano.
E mesmo com tamanha desigualdade de condições fez o impossível pra não morrer.
José Augusto Cavalcante